Minoria barulhenta (blog Inteligência Estratégica)

Até a eleição de Lula, o PT e os petistas eram uma minoria barulhenta que praticamente tinham o monopólio da oposição e das ruas.

Tinham capacidade de mobilização para fazer passeatas, comícios, criticando e até mesmo ofendendo o Governo e suas autoridades. Em pleno exercício democrático e apoiado pela mídia.

Com o apoio da maioria silenciosa ganharam o poder e se retiraram das ruas, deixando apenas alguns movimentos setoriais, formados por servidores públicos que se consideram traidos. As poucas movimentações de protesto - quando ocorriam - eram por questões pontuais, sem o caráter ideológico. A esquerda mais radical, formada pelo PSOL, pelo PSTU e outros dissidentes do PT não conseguem grandes mobilizações e tem pouco apoio da mídia.

Agora, quando a elite e a classe média, procuram se organizar para mobilizar a maioria silenciosa, o PT e Lula reagem de forma furibunda e desproporcional. O que os leva a esse reação?

O receio de que esse movimento ganhe corpo e venha tirá-los do poder em 2010? Ou apenas não deixar que qualquer outro movimento quebre o "monopólio da ruas"?

A pesquisa da Datafolha mostra que pouco ou nada mudou na popularidade de Lula, mesmo após as vaias do Maracanã ou a tragédia do voo 3054 em Congonhas.

O quanto você ficou sensibilizado ou horrorizado com a queda da ponte em Minnesota? É muito longe! Não é comigo! Essa é a reação do povo.

Para o povo que não viaja de avião, o medo será sempre maior que um avião caia em cima dele do que com a crise aérea. Crise aérea é um problema da opinião publicada, não da opinião pública, não do povo. O que dará maior segurança íntima a Lula e sobrepor-se à sua recaida de petismo, como se viu na semana passada.

A pesquisa mostra que Lula continua com o apoio incondicional e quase absoluto do povo. Da maioria do povo brasileiro, que é podre e com baixo grau de educação. A maioria silenciosa no Brasil não é de uma classe média que não se manifesta, mas dos pobres que estão satisfeitos - em primeiro lugar - com a estabilidade da moeda (não há "carestia") e, secundariamente, com os programas sociais.

A primeira e principal condição que assegura o apoio popular foi criada nos governos anteriores e continuada no Governo Lula. Que sabidamente se apropriou do benefício e, com isso, tirou da oposição a sua principal bandeira de contraposição. A esta altura da história, querer convencer o povo de que o combate à carestia é uma obra dos governos FHC e não de Lula, é bobagem, é tempo perdido. O povo já incorporou a percepção de que o grande benfeitor da estabilidade do real é de Lula. E isso lhe garante um amplo apoio e cala a oposição tucana.

Se a inflação voltar, Lula perderá o apoio do povo, mesmo com todos os progamas sociais. O bolsa família será percebido como uma esmola que não tem valor: "de que adianta esta m...., se não dá pra comprar nada!". "Isto é esmola para o comerciante lucrar: ele aumenta o preço de tudo".

O que importa na reação do povo não é o fato, mas a sensação (como para todos os demais). Com a estabilidade monetária o bolsa família tem valor, gera uma sensação positiva de ganhos no seu poder de compra. Se houver inflação, a sensação será o contrário. Depois de três meses de bolsa-família sem reajustes, diante de uma inflação superior a 5% no período, a insatisfação será generalizada.

O dilema para a oposição é que não pode ser a favor do retorno da inflação para contrapor-se ao Governo.

Tem que buscar outras estratégias para conquistar corações e mentes da maioria silenciosa.

Não será por movimentos de uma minoria barulhenta.

Cansei.