quarta-feira, 10 de março de 2010

As ótimas charges do Roque Sponholz

Sponholz é um arquiteto de Blumenau e além de bom arquiteto, é um ótimo chargista e observador sagaz do momento político que traduz imediatamente para a imagem. Acompanho suas charges já há mais de 5 anos na Internet. Hoje elas estão difundidas por todo o Brasil. Vejam abaixo parte pequena de sua obra e se quiserem, vão ao website dele(aqui neste link) para verem mais. O download é livre.

Os papeis do Ministério da Defesa

Fala-se volta e meia do Ministro Jobim e pouco do Ministério da Defesa.  De onde surgiu este ministério?
Tem algo mais que a cabeça de Fernando Henrique nesta história.  Desde a deposição do Imperador Pedro II as forças armadas assumiram o principal papel do imperador: o Poder Moderador. 
De forma legal e previsível o Imperador atuava sobre o Legislativo e Judiciário, numa regra de jogo que as diversas correntes políticas aceitavam, na maioria das vezes numa boa: mexia-se nos outros poderes e mudava-se os peões quando se achasse necessário.
Ao exercerem o mesmo papel, as forças militares geraram ódios em vastos segmentos da sociedade ao mesmo tempo que outros segmentos as incentivavam para ir em frente e atropelar o presidente no poder, como Carlos Lacerda fez mais de uma vez.  A população polarizava ao extremo em torno dessas lideranças.
Para compensar o Presidente Goulart tentou diminuir o poder militar, subvertendo a ordem até que a paciência fardada se esgotasse.  Contrariamente ao que alguns jornalistas declararam em suas memórias, expressiva parte da população apoiou a revolução de 31 março que os desafetos rotularam como o golpe do 1º de abril.
E assim o Brasil viveu por 21 anos, os militares criando hostilidades em muitas frentes, perdendo o apoio da maior parcela da população que respaldara o movimento militar em seu início.  O Poder Moderador militar bem que tentou mas nunca conseguiu ter o charme e a empatia de D. Pedro II.
Em 1985 entram em cena os presidentes civis tentando enfiar os três ministérios militares num fundo de gaveta.  Até que FHC resolve o problema espacial, transformando os três ministérios num único, o da Defesa, inspirado no modelo norte-americano.
O Ministério da Defesa norte-americano surgiu no início de uma rebelião militar no ano de 1.783, com as tropas acampadas em Newburg, N.Y., com a vitória na guerra da independência à vista, mas ainda incerta;  o General Horatio Gates estimulou oficiais subordinados a levantar a tropa contra o Congresso ou marchar para a Filadelfia e capturar o governo.  George Washington em reação convocou uma reunião da tropa para uma quinzena, designou o General Gates para presidi-la, deixando a impressão que um amigo dos insurretos iria dirigir os trabalhos e que ele nem apareceria no evento; enquanto isso planejou a estratégia e convocou seus aliados para a reação.
Num pronunciamento inesperado e emocional, Washington virou o jogo e obteve o apoio de 500 oficiais no evento, criando o conceito que os militares aconselham e a liderança civil decide.  Seis anos mais tarde, este conceito foi transposto para a Constituição.
Assim hoje em dia, o Presidente Obama é quem decidiu aumentar o envolvimento americano no Afeganistão e o Congresso é quem decide liberar as verbas para dar andamento à decisão.  É o presidente e o Congresso, não os militares, que decidem se as leis devem ser mudadas para permitir aos gays e lésbicas a servirem nas forças armadas.
Já no Brasil, sem uma guerra de independência, um Congresso e um George Washington, a decisão cerebral de FHC teve um período de maturação de cinco ministros no cargo da Defesa, até que Nelson Jobim surgir no cenário, vindo do mais alto posto da justiça.  Conforme iremos ver adiante, a maturação continua.
De cara Jobim enfrenta o caos, a má fé e a incompetência na aviação civil, tanto nas obras aeroportuárias quanto nos maiores acidentes aéreos de nossa história. O Ministério da Defesa fora criado mas a aeronáutica civil estava a matroca, com graves insubordinações na equipe que deveria zelar pela segurança do tráfego aéreo e falta de competência na gestão de sua estrutura.  Medidas enérgicas foram tomadas, no meio de protestos da imprensa e das empresas de transporte aéreo;   o tempo veio provar que os principais focos do caos tinham sido debelados, tanto no governo quanto nas empresas privadas.

Com os militares fora do poder, as Forças Armadas brasileiras foram tratadas, ou melhor, destratadas por uma série de governos, como algo imprestável, desnecessário, descartável, com sentimentos de vingança talvez enrustidos por 21 anos de arbitrariedades militares.  Na verdade, o observador mais atento e tecnicamente preparado, observa há anos que o conceito de defesa nacional não permeou no poder civil, até junto a seus profissionais mais sofisticados, como FHC, que fez declarações no mínimo desastradas.  Criou-se o conceito de poder civil decidir assuntos estratégicos, mas nossos civis ainda amadurecem, ainda não chegaram lá.

O programa nuclear da Marinha, incluindo a construção do submarino nuclear e a obtenção do combustível nuclear, de importância estratégica fundamental, foi abandonado às moscas, sendo tocado por anos com migalhas por dedicados e abnegados oficiais da Marinha.  Os políticos de Brasília ainda não compreenderam o que seja "importância estratégica fundamental".  Sentimentos de vingança enrustidos ?

Na Força Aérea, a visão de alguns oficiais como Casimiro Montenegro, no ano de 1943 com a II Guerra virando a favor dos aliados, conceberam bem antes de seus colegas da Marinha, a necessidade do domínio estratégico para desenvolver uma força eficaz.  Assim construíram a partir do ITA a Embraer a qual deu bons aviões de treinamento subsônicos, turbo-hélices eletronicamente avançados.  Ao mesmo tempo se cortou em Brasilia a verba do combustível e o resto da frota envelheceu nos hangares, os oficiais voadores cada vez voando menos.  Assim constituiu-se numa crescente fonte de acidentes e mortes.  Eram os caixões voadores da FAB e o Boeing quadrireator que servia a Presidência rotulou-se como "Sucatinha".  Você que está leu este texto até aqui, voaria num "sucatinha" ?

No Exército o sucateamento implicava no enguiço no meio da estrada dos veículos militares que ainda conseguiam sair para a rua.  Se nem os aviões que caiam e matavam eram notícia na imprensa, os tanques e caminhões blindados enguiçados e rebocados na estrada muito menos.

Este conjunto inoperante de terra, mar e ar foi o Ministério da Defesa que o abnegado Ministro Nelson Jobim herdou.  E desde então no âmbito interno das Forças Armadas, pela primeira vez, as três armas se juntam e falam em alto nível das necessidades estratégicas do Brasil de forma coerente e planos vão sendo desenvolvidos.  Espera-se que em algum momento o Poder Civil amadureça para o exercício de seu cargo.
Outro tópico atual é a escolha do caça supersônico denominado FX-2.  Até agora o assunto vem sendo tratado de forma sigilosa e talvez desastrada, pois o conceito operacional do novo ministério ainda não alcançou todas partes envolvidas.  Relembrando o conceito norte-americano, o pai da criança com quem estamos tentando nos envolver: “os militares aconselham e a liderança civil decide”.  Há cinco anos eram cinco os países participantes na concorrência misteriosamente reduzidos a três.
Houve uma confusão no meio do campo e o Presidente optou por um dos países antes dos militares aconselharem, ou então toda esta história foi mal contada, em prejuízo dos militares que estão proibidos de se manifestar.
Um general quatro estrelas, que perdeu a paciência com as declarações recentes e infelizes do ex-ministro da justiça, também perdeu o cargo, numa iniciativa  inédita do Poder Civil, parecida em sua forma na exoneração do Comandante do II Exército, em 1975, pelo Presidente da República.  Só que na época, o presidente era o General Geisel o qual, como General George Washington, primeiro em 1783, acertou os ponteiros com seus comandados, antes de bater o martelo.
Parece que passamos a ter um Ministério da Defesa onde o Ministro vai fardado para a Amazônia, deixando seus ternos de casemira inglesa no cabide.  Isto é um detalhe e decisão dele, que a imprensa de fraldas, saída das Escolas de Comunicação e nada entendendo de defesa, aborda como tema relevante...

Pedro John Meinrath                                                                                             
Engenheiro Aeronáutico

São Paulo, 17 de fevereiro de 2010.

domingo, 7 de março de 2010

2010 será o ano da escolha entre o certo e o errado

A divulgação do Programa Nacional de Direitos Humanos confirmou que a eleição de 2010 será mesmo plebiscitária. O Brasil que pensa entendeu que terá de escolher entre a democracia representativa e o stalinismo farofeiro, entre a liberdade e o autoritarismo , entre o mundo civilizado e as cavernas onde conspiram os pastores do atraso.
A reportagem de capa da edição de VEJA, outra reafirmação do mergulho sem volta do PT no pântano, é a prova definitiva de que o desejo de Lula (”Gostaria que fosse nós contra eles, olho no olho”) será atendido. O governador José Serra é um homem sem prontuário. Basta que vire ostensivamente as costas aos pecadores do PSDB e do DEM ─ uma tribo diminuta se confrontada com a imensidão de companheiros fora-da-lei ─ para que os eleitores entendam que estarão escolhendo entre a honestidade e a roubalheira, entre a honradez e a corrupção.
Serra vencerá se compreender que a oposição brasileira é muito maior, mais tenaz, mais corajosa e mais combativa que a oposição formal. Ele precisa ser mais que o candidato de uma aliança partidária assustadiça, excessivamente cautelosa. Tem de transformar-se no porta-voz do Brasil decente, que não teme porque não deve, que respeita a lei e exige que todos sejam obrigados a respeitá-la, que lutou pela restauração do regime democrático e dele não admite abrir mão.
“A oposição não tem programa, a Dilma tem”, vangloriou-se em Cuba o ministro Franklin Martins, ainda com o olhar de quem viu o homem que quer ser quando crescer. “Qual é programa do Serra?” O candidato do PSDB acha que ainda é cedo para apresentar um plano de governo. Mas já passou da hora de apanhar a luva atirada por Lula, aceitar o repto lançado por Franklin e desfraldar o quanto antes as duas bandeiras que o PT jogou no lixo. O partido que reivindicava o monopólio da ética caiu na vida. O partido que se fingia de libertário ama Fidel Castro e flerta com Hugo Chávez.
Serra, ex-militante da Ação Popular, converteu-se num genuíno democrata. Dilma jamais renegou o script de coadjuvante da Polop e Var-Palmares, organizações comunistas que recorreram à luta armada para substituir a ditadura militar pela ditadura do proletariado. Serra não tem contas a acertar com a Justiça. Dilma foi escolhida por um presidente que acoberta todos os delinquentes de estimação, é candidata pelo partido do mensalão e entregou a coordenação da campanha a José Dirceu.
Só faltava Delúbio Soares. A reportagem de VEJA mostrou que não falta mais nada: João Vaccari, o novo tesoureiro da direção nacional do PT, é um Delúbio piorado. A sucessão presidencial de 2010 não passará ao largo de critérios políticos e morais. Eleger Dilma Rousseff é entregar o poder aos carrascos da liberdade. É entregar a chave do cofre à bandidagem que, por ter perdido de vez o medo do xerife, já nem usa lenço para esconder o rosto.
Augusto Nunes, 07/03/2010