É somente uma parte do artigo "Esquentando os motores" publicado no Estadão de domingo mas ligado ao post do Antonio Rayol abaixo. Se tiverem oportunidade leiam todo o texto.
À maneira irônica que lhe caracteriza, João Ubaldo Ribeiro acha que tem estado de má vontade criticando o presidente pois percebeu que ele está esquentando os motores do governo, ajustando o país à sua maneira de não governar. Escreve ele:
"Foi isso que o povo quis e é isso que está tendo, pois está mais que na cara que, se ele foi reeleito por maioria tão significativa, é porque o povo gosta do estilo de não governar que ele estabeleceu desde o princípio, contanto que não toquem no Bolsa-Família, essa obra social de largo alcance, que dispensa o emprego e em breve, ao que tudo indica, estará sustentando a maior parte do povo brasileiro. E certas mudanças já se deixam entrever muito claramente, de especial maneira na área social, que, como se repete com frequência, não pode deixar de ser priorizada num governo de raízes populares. Já se falou muito, na semana finda, na idéia da Secretaria de Ação Social, de acordo com a qual se premiarão com bolsas as famílias de jovens infratores. O horizonte de possibilidades que essa abordagem originalíssima oferece chega a ser estonteante, uma revolução que, se levada adiante com determinação, poderá ser vista como um marco na história da civilização ocidental. "
Em outro trecho, ele continua:
"Tenho a certeza que esse programa dará certo e renderá frutos. Como bom brasileiro, ofereço logo uma idéia dentro do mesmo espírito: por que não - oh, ovo de Colombo! - estender esta bolsa a assaltantes, ladrões de carros, sequestradores, e outros criminosos? O problema é social, certo? Assalta-se e sequestra-se por necessidade, falta de emprego, discriminação, ausência de oportunidades, perversidade da sociedade consumista, etc.,etc. Então se cria o Fundo Nacional para Recuperação do Delinquente, talvez até um ministériozinho, como é da índole deste governo. Depois de feito isso, bastará ao interessado preencher a Declaração de Criminalidade de Etiologia Social e juntar a documentação mínima (CPF,RG,comprovante de residência, título de eleitor, Darf quitado e o depoimento de dois assaltados, por exemplo) para receber ajuda estatal, em forma de Salário-Assalto, Ticket-Sequestro ou Vale-Assassinato, tudo depois de cuidadosa análise por uma equipe de assistentes sociais, psicólogos e criminologistas. Claro que com isso o problema do desemprego estará resolvido e o crime estancado em sua raiz Na verdade, a idéia é tão boa que só por patriotismo a ofereço de público, sem patenteá-la antes. Saldando sua pesada dívida para com os infelizes que matam, torturam , humilham, estupram, aleijam e enlouquecem, coitados, a sociedade não só estara se redimindo moralmente perante a história deste país, como, com a mesma cajadada, se livrando dos crimes e da insegurança."
Pois é Rayol. Só nos falta essa.
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